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Óleos essenciais e pressão arterial – conceitos e pesquisa

Óleos essenciais e pressão arterial

Óleos essenciais e pressão arterial

As moléculas químicas presentes nos óleos essenciais atuam ativamente nos mecanismos de controle da pressão arterial, modulando os parâmetros para mais ou para menos em indivíduos saudáveis. Essas interações podem ser mais proeminentes ou indefinidas em situações de patologias estabelecidas, com interações fisiológicas e farmacológicas. Para entendermos essa interação, primeiro veremos os conceitos e processos homeostáticos do sistema cardiovascular relacionados a modulação da pressão arterial, para então caminharmos pela literatura científica em busca de trabalhos sobre os efeitos de óleos essenciais e seus constituintes nesse sistema.

A pressão arterial é responsável pela entrega adequada de sangue aos nossos tecidos. O sangue leva oxigênio e nutrientes às células e recolhe CO2 e metabólitos para serem excretados pelo nosso pulmão e rim (1,7,9).

A expressão pressão arterial refere-se a pressão exercida pelo sangue contra a parede das artérias. A média dos valores instantâneos da pressão sistólica e pressão diastólica é chamada de pressão arterial média. A pressão sistólica ou pressão máxima se deve a fase de contração do coração, chamada de sístole cardíaca. Durante a sístole, o coração ejeta o sangue com pressão máxima na circulação arterial. Quando o coração relaxa recolhendo o sangue da circulação venosa, temos o valor da pressão diastólica ou pressão mínima. E assim, durante o ciclo cardíaco, nossa pressão se alterna em pulsos, variando entre pressão máxima e pressão mínima. Essa variação é necessária para manter a circulação do sangue que percorre por todo o nosso sistema cardiovascular, irrigando os tecidos do nosso corpo (1,7,9).

Óleos essenciais e pressão arterial

Vários parâmetros fisiológicos cardíacos e circulatórios determinam os valores da nossa pressão arterial. Quando o coração bate mais rápido e mais forte com o aumento da frequência cardíaca (FC) e força de contração (contratilidade), o débito cardíaco aumenta e a nossa pressão arterial se eleva. Quando aumentamos a retenção de líquidos corpóreos, a nossa pressão também aumenta. O mesmo ocorre quando temos aumento da resistência vascular periférica, isto é, quando nossos vasos sanguíneos sistêmicos se contraem (vasoconstrição) a nossa pressão arterial aumenta. Na vasodilatação a pressão arterial cai (1,7,9).

A manutenção da pressão arterial média se deve a modulação desses parâmetros citados acima, que é feita pela atividade integrada dos Sistema Nervoso (SN), Endócrino, Cardiovascular e Urinário (1,7,9).

Controle da pressão

Óleos essenciais e pressão arterial

Controle da pressão - Óleos essenciais e pressão arterial

O controle da pressão arterial a curto prazo é neural. O sistema nervoso autônomo é capaz de alterar a nossa pressão em intervalos de milissegundos. Ele se divide em Sistema Nervoso Simpático e Parassimpático. O Sistema Nervoso Simpático está aumentado em estados de alerta (luta ou fuga) que exigem respostas rápidas com gasto de energia para nossa sobrevivência frente a situações de risco eminente potencial, real ou imaginário. Assim, o coração bate mais rápido e mais forte, os vasos sanguíneos periféricos se contraem, a circulação nos músculos cardíacos e esqueléticos aumentam, a glicose no sangue aumenta favorecendo o suprimento de energia necessário para a situação crítica. A pressão arterial aumenta, isso ocorre fisiologicamente quando nos assustamos, durante a atividade física e durante períodos de estresse agudo. No equilíbrio fisiológico esse estado é temporário, retornando ao repouso após a exigência. Quando o perigo potencial cessa, o corpo retorna aos seus parâmetros de repouso. No estado de repouso, estamos aptos a fazer digestão, restaurar a energia e funções corpóreas. Então, o sistema parassimpático predomina em equilíbrio perfeito com o tônus simpático diminuído (1,7,9).

Na nossa sociedade, as demandas e tensões da vida externa podem confundir os nossos sistemas de equilíbrio internos. Constantemente, lidamos com perigos potenciais imaginários e reais; corremos do leão 24 horas por dia, muitas vezes sem intervalos de descanso para o nosso corpo e mente. O balanço do Sistema Nervoso Autônomo se desequilibra em direção ao Simpático. Hormônios como cortisol e adrenalina se elevam na nossa circulação sanguínea com vários efeitos no nosso corpo, incluindo o aumento mantido da pressão arterial (1,7,9).

Óleos essenciais e pressão arterial

Somado a isso, podemos ter alterações no controle da pressão arterial a médio curto prazo. Esse sistema de controle da pressão arterial depende da liberação de hormônios que controlam a quantidade de líquidos no nosso corpo. O aumento do volume de líquidos aumenta a pressão arterial. A retenção de sódio promove retenção de água, aumentando nossos líquidos corpóreos. O rim é responsável pela eliminação desse excesso de sódio e água. O rim segue as ordens dos hormônios liberados pelo coração, pela hipófise e pelo córtex da adrenal1,7,9.

Quando ingerimos muito sódio retemos água, a pressão aumenta e o nosso corpo responde eliminando o excesso pela urina. Assim, voltamos a pressão arterial normal. Se ingerirmos sódio repetidamente e diariamente, o corpo modifica o seu sensor de controle de pressão e modifica os seus parâmetros de regulação para mais, mantendo a pressão arterial elevada constantemente (1,7,9).

As hipertensões podem ser primárias ou secundárias, de causas genéticas, idiopáticas ou devido ao estilo de vida. Os fármacos utilizados para tratamento podem ser categorizados de acordo com o seu mecanismo de ação: diuréticos, betabloqueadores, bloqueadores de canal de sódio, vasodilatadores ou inibidores da ECA. Todos eles atuam em um ou mais parâmetros cardiovasculares: frequência e contratilidade cardíaca, diâmetro dos vasos sanguíneos (resistência periférica sistêmica) e eliminação de líquidos (1,7,9).

Os óleos essenciais possuem moléculas terpênicas que atuam no nosso corpo interagindo com esses parâmetros e mecanismos envolvidos na manutenção da nossa pressão arterial.

Tisserrand e Young

Óleos essenciais e pressão arterial

Tisserrand e Young - Óleos essenciais e pressão arterial

Tisserrand e Young (2014), citam vários óleos essenciais e moléculas que modulam a pressão arterial. O bisabolol, carvacrol, óxido b-cariofileno, eugenol, (-)-mentol, timol, (E)-anetol, cinamaldeído e o óleo essencial de hortelã pimenta bloqueiam os canais de cálcio nas células do sistema cardiovascular. Linalol, citronelol, nerol, geraniol, alfa-terpineol e 1,8-cineol, citral, carvona, alfa pineno e eugenol promovem vasodilatação. Esses mecanismos de bloqueio dos canais de cálcio do coração e vasos sanguíneos levam a queda da pressão arterial (3,4,16,17).

O carvacrol é capaz de inibir canais de cálcio tipo L (5) e receptores TRP (2) modificando a atividade elétrica e mecânica do coração, além de vasodilatação. Além do carvacrol, outros componentes fenólicos, como o timol e eugenol foram capazes de inibir correntes de cálcio em células cardíacas de cães e humanos em um trabalho realizado por Magyar e cols. (2004).

Óleos essenciais como lavanda, semente cenouras, alho, ylang ylang, cedro, bergamota e sândalo também demonstraram efeitos de diminuição na pressão arterial, segundo Tisserrand e Young (2014). Esses autores também citam um estudo em humanos com o uso do gerânio para tratamento de hipertensão, com resultados satisfatórios além da queda nos níveis de cortisol demonstrado por Nozaki, 2001.

Jung e cols. (2013) observaram queda da pressão arterial após a inalação de ylang ylang. Esse efeito também ocorreu após a aplicação tópica de solução de ylang ylang a 20% (10).

Santos e cols. (2011) revisaram os efeitos dos monoterpenos no sistema cardiovascular demonstrando atividade de vasodilatação, modulação da freqüência cardíaca e hipotensão causada por vários monoterpenos, como o timol, carvacrol, 1,8 cineol, mentol, alfa-terpineol, alfa-terpine4ol, alfa-pineno e p-cimeno. Segundo os autores, os monoterpenos podem ser úteis como agentes de prevenção e / ou tratamento de doenças cardiovasculares.


Óleos essenciais e pressão arterial


Uma revisão realizada por Andrade e cols. (2017) mostrou a atividade potencial de várias moléculas terpênicas na função cardiovascular, como a timoquinona, cinamaldeido, ácido cinâmico, alfa bisabolol, carvacrol, borneol, carvona, citral, citronelal, linalol, mentol, alfa-terpineol, 1,8-cineol. Essas moléculas promovem queda na pressão arterial atuando por diversos mecanismos de ação, incluindo bloqueio de canais Ca2+ tipo L dependentes de voltagem, ativação colinérgica do reflexo vagal e participação dos receptores muscarínicos (4).

Haze e col. (2002) mostraram que a inalação dos óleos essenciais de pimenta negra, estragão, funcho doce e grapefruit aumentaram a atividade simpática e pressão arterial média, enquanto os óleos essenciais de patchouli e rosas inibiram essa atividade com diminuição da concentração de adrenalina plasmática.

A inalação por 10 minutos do óleo essencial de grapefruit elevou a pressão arterial associada a diminuição dos níveis de cortisol em um experimento realizado em humanos (1). Trabalhos anteriores em modelos animais demonstraram tanto o efeito do grapefruit como o do componente limoneno na elevação da pressão arterial, associado ao aumento nos níveis plasmáticos de adrenalina, após inalação por ratos durante 10 minutos (19,22,23).

O efeito anti-hipotensivo do Rosmarinus officinalis contendo 1,8-cineol (47.6%), cânfora (13.8%) e α-pineno (11.7%) foi demonstrado em um estudo clínico prospectivo realizado em 32 pacientes que receberam 1 ml desse óleo essencial por ingestão, a cada 8 horas, por 44 semanas. O alecrim produziu um efeito estimulador associado a melhora na qualidade de vida dos pacientes (8). Outros autores também demonstraram o aumento da pressão arterial causada pelo alecrim pelas vias inalatória (18) e tópica (11).

Segundo Tisserrand e Young (2014), os óleos de eucalipto, cânfora, pinho, tomilho e hortelã devem ser riscados das listas de advertência para uso em pessoas com hipertensão. Óleos essenciais de hissopo e sálvia são contraindicados somente em doses altas orais em pacientes hipertensos, baixas doses provavelmente são hipotensoras. Os óleos essenciais que apresentam pequeno risco pela via inalatória incluem o grapefruit, limão, alcarávia, pimenta preta, erva-doce, estragão e outros óleos ricos em carvona ou limoneno, os quais aumentam de forma bem leve a pressão arterial segundo estudos em humanos (24,25).

Podemos observar que os efeitos dos óleos essenciais no sistema cardiovascular são diversos devido as diferentes estruturas químicas de seus constituintes, as particularidades de interação dessas moléculas componentes em cada óleo essencial e, também as vias de administração utilizadas. Ainda faltam pesquisas corroborando as ações encontradas em experimentos in vitro e cobaias e, também faltam ensaios clínicos para que possamos estabelecer formas seguras de administração e posologia em diferentes situações clínicas. Mas, já podemos concluir que o uso de óleos essenciais em pessoas estáveis, por inalação se faz mais seguro, respeitando os intervalos e tempo de administração adequados e estabelecidos de forma individual.

Referências Bibliográficas

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3. Alves-Silva, Jorge & Zuzarte, Mónica & Marques, Carla & Lígia, Salgueiro & Girao, Henrique. (2016). Protective Effects of Terpenes on the Cardiovascular System: Current Advances and Future Perspectives. Current medicinal chemistry. 23. 10.2174/0929867323666160907123559.
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Uma ideia sobre “Óleos essenciais e pressão arterial – conceitos e pesquisa

  1. Adriana S Rigoni disse:

    Muito útil ! excelente!

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